domingo, 31 de março de 2013

Um novo fim para um novo recomeço - (a luta por moradia na Barra dos Coqueiros)




As lágrimas do povo se misturam ao suor e a poeira, que se dissipam ao som feroz das máquinas e da truculência policial destroçando os barracos; barracos que além de Madeirit, restos de construção e lonas eram feitos de esperanças e trabalho duro de um povo que está fora do campo de visão das políticas públicas e que escolheu não se render ao crime e outras mazelas além das que carregam, escolheram Lutar, trabalhar, sobreviver. Essa era a cena do dia 27 de março de 2013 na terceira área ocupada pelo MOTU,  Movimento Organizado dos Trabalhadores Urbanos, na cidade de Barra dos Coqueiros.

A ocupação Vitoria da ilha iniciou a 9 meses atrás em uma área obsoleta, descumpridora da função social da terra, próximo a H Dantas,  teve  a ordem de despejo capitaneada pelo atual a secretário de assuntos jurídicos, o senhor das contradições José Carlos Góes Montalvão o defensor do proprietário. De modo que a vitória judicial do irregular Dono da área, senhor Antístenes, também dono de uma empresa, a Vega Marítima, tendo essa um deposito no município, porém sem registros, forçou as quase duzentas famílias na época a buscarem um novo local que sanasse o seu grande problema: O direito constitucional a Moradia, direito que lhes é vetado a partir do momento em que se torna inconciliável pagar um aluguel e comer, viver sobre um teto sem teto, dentre outras situações ultrajantes comuns a eles e elas. E quem são eles e elas? É o povo esquecido dessa Barra dos Coqueiros de 59 anos de invisibilidade de justiça social, são carroceiros, flanelinhas, cozinheiras, pescadores, donas de casa, também pessoas da grande Aracaju, pessoas que não são o suficientemente “grandes” para serem enxergadas por ela. A busca dos ocupantes do Vitória da Ilha organizados pelo MOTU chegou a uma nova área, uma área de interesse social-AIES TIPO 1, segundo o Plano Diretor Sustentável e Participativo de Barra dos Coqueiros, uma área que assim como outras demarcadas na lei municipal tem como um de seus fins prioritários a construção de habitações populares, contudo a área desapropriada pelo Decreto nº021/2008 de 01 de fevereiro de 2008 (Prefeito Ayrton Martins, decreto de desapropriação) e  pelo Decreto nº 361/2009 de 07 de agosto de 2009 (Prefeito Gilson dos Anjos, decreto de desapropriação corrigindo as medidas da área) era um grande pasto estéril, e assim voltou a ser, pois novamente após 6 meses de ocupação o judiciário de Barra dos Coqueiros, com a conivência e inoperância do Executivo, Prefeito Airton Martins, e do Legislativo-Vereadores,  decidiu em favor dos “Donos” de uma área desapropriada e prevista para fins de habitação em duas leis municipais, pois além do plano diretor  a área esta mapeada também no Plano Municipal de Habitação, sendo assim sem teoricamente poder vender ou executar qualquer obra, mas a coerência legal não impediu a força dos interesses obscuros,  e novamente as agora 172 famílias, foram despejadas a própria sorte, e sem esmorecer na briga legítima, ocuparam o terreno público da futura praça da juventude, um lugar inóspito para qualquer pessoa viver, as margens da rodovia que da acesso a ponte Construtor João Alves.

Com isso acaba por desnudar um problema muito maior do que o das 172 famílias do MOTU, chama atenção para a Barra feia onde existem pobres sem casa e sem tantas outras coisa básicas, a Barra que 2008 apresentava um déficit de moradia de mais de 1000 habitações contabilizadas pelo Plano Municipal de Habitação, que tratava das ocupações do Canal Guaxinim, Atalainha, Goré e Suvaco do Cão, um cultivo cômodo da pobreza se compararmos a dados de IBGE 2000 em um relatório do ministério das cidades que mostra 8,3% das habitações eram precárias e subnormais o que representava 362 habitações, e o hoje os últimos dados do senso de 2010 apontam para a manutenção desse estado com aproximadamente 966 pessoas vivendo apenas nos aglomerados subnormais (ocupações) sem contar as áreas em situação precária.

Assim podemos ver que os problemas só se avolumaram, pois esses dados ainda parecem pequenos perto do crescimento da problemática nos últimos anos posteriores a pesquisa, pois nada vem sendo feito e por isso voltamos à cena do inicio desse texto: o despejo das famílias do Motu da quarta-feira dia 27 de Março, as vésperas da semana santa, em uma cidade predominantemente cristã, cuja padroeira é Santa Luzia, nada se vê de reflexão e renovação de esperança como prega essa época, apenas as máquinas do PAC-Programa de Aceleração do crescimento que deveriam ser usadas para erguer, destruíam. E por quê? Mais do que as alegações superficiais de mandatos de uma justiça que tem donos e por eles é feita, o MOTU, a ocupação vitória da ilha era uma ferida exposta da cara de uma Barra que se vende a cada dia mais vergonhosamente para o capital imobiliário, vemos Alphavilles e Damhas fazendo cursinhos de educação ambiental prometendo esmolas a instituições, engodos para enganar os tolos diante dos inúmeros impactos e deslocamentos de prioridades que já geram para o município. O que víamos direitos humanos desrespeitados, moveis e animais de estimação esmagados, roupas de bebe, bonecas abandonados no chão, era um cenário de batalha, ou melhor, de luta, a luta de classes; a luta do Motu não representa hoje na Barra apenas a luta por moradia mais uma luta por transformação social em um cidade loteada para os ricos de mão dada com os ditos representantes do povo, fica para estes eleitos uma frase do educador Florestam Fernandes: “Não existe neutralidade possível: o intelectual(governantes e magistrados) deve optar entre o compromisso com os exploradores ou com os explorados”.

 E por fim fica a força desse povo que fez das tripas coração para se manter de pé diante desse novo despejo ao qual estavam buscando recorrer até a última hora, e diante do abandono e das  falsas promessas do município o povo foi abrigar-se na única quadra do município, que inclusive foi indicação do secretario de assuntos jurídicos, citado anteriormente, junto ao  secretario de comunicação que no primeiro momento disseram que a prefeitura se comprometeria também com o transporte para o local, o transporte da prefeitura foi suspenso e hoje há representante que negue a cessão da quadra Capitão Juca , o fato é que eles estão lá e permanecerão até que, esperamos todos,  se forje pelo poder público uma solução mais adequada. O fato é que resistem em meio a tantos ataques, ataques sim! Pois até prisões foram deflagradas contra pais de família da ocupação, sobre o julgo de roubo de energia, pois gostaria de saber como seria feito se os habitantes em áreas irregulares fossem todos presos por ligar uma geladeira! Deveriam ser presos os que roubam a condição desses seres humanos de morar em lugar onde tenham acesso seguro a redes elétricas. O fato é que estão lá cozinhando juntos, dividindo pertences e sonhos por dias melhores, tentando fazer brotar uma flor do impossível chão. Quando morar é um privilégio ocupar é um direito! Na luta por moradia Sejam Realistas, Exijam o Impossível!




Por Marina Franca Lelis Bezerra
Militante do Coletivo Sejam Realistas! Exijam o Impossível! da Barra dos Coqueiros
Engenheira Agrônoma, Mestranda em Desenvolvimento e Meio-Ambiente/UFS
Moradora da Barra a 21 anos dos seus 24 anos de idade.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Carta Compromisso para o Executivo e Legislativo da Barra dos Coqueiros



CARTA COMPROMISSO


Ao: Prefeito Airton Sampaio Martins/Vereadores do Município de Barra dos Coqueiros


O Coletivo Sejam Realistas, Exijam o Impossível vem, através desta carta, apresentar as pautas que defendemos para alcançarmos um transporte coletivo realmente público, gratuito e de qualidade. O transporte hoje é privatizado, organizado e controlado pela SETRANSP que representa oito empresas em quatro municípios (Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros). Mesmo se tratando de um serviço essencial, essas empresas atuam sem licitação desrespeitando a constituição federal. Isso tem gerado uma série de problemas para o poder público e os mais prejudicados têm sido a população, afinal é de conhecimento público e notório a péssima qualidade do sistema de transporte coletivo na grande Aracaju.

Os questionamentos acerca dos problemas no transporte coletivo não são novos. Para se ter uma ideia, em 1983, uma CPI foi instalada na câmara de vereadores de Aracaju com o objetivo de apurar as irregularidades do transporte, mas acabou arquivada, mesmo constatando que os aumentos eram infundados. Muitas outras leis são desrespeitadas pelo município de Aracaju além da gritante ilegalidade da inexistência de licitação. Podemos citar dois exemplos: O primeiro trata da lei 1636/90 que determina que nos terminais de integração sejam colocadas placas com as linhas e horários dos ônibus. Na prática isso nunca aconteceu. O segundo diz respeito à lei orgânica do município, no seu art. 242, § 3º, que obriga que qualquer proposta de aumento de passagem vinda do executivo seja aprovada pelo legislativo. Entretanto, na última década, os vereadores nunca discutiram o aumento da passagem nas sessões.

Diante de tanto descaso e exploração, o Coletivo Sejam Realistas, Exijam o Impossível com a proposta clara de reivindicar um transporte digno para a população destaca que o município de Barra dos Coqueiros é afetado diretamente pelas alterações no transporte público promovidas pelo legislativo e executivo da capital, de modo que as instâncias de poder Barra-coqueirenses (câmara de vereadores e prefeitura) nunca interviram, ou se pronunciaram em defesa dos interesses da população local. Vivemos numa época onde muito se discute mobilidade urbana, muito se fala na melhoria do transporte como solução para o caos no trânsito que vivemos, mas quase nada é feito para realmente mudarmos essa situação. Em 2012, diante de muita pressão popular, o movimento Não Pago conquistou o congelamento da passagem. A prefeitura e os vereadores cederam diante da pressão, mas não deixaram de agraciar os empresários, pois reduziram o ISS do transporte em 3% privilegiando mais uma vez os donos de empresa. Nós acreditamos que é na base da organização e da luta que podemos conquistar nossos direitos. Diante desse cenário propomos ao prefeito e aos vereadores eleitos na Barra dos Coqueiros que fiquem ao lado da população explorada e enfrente a ganância do empresariado. Esperamos que o prefeito e os vereadores se comprometam com as propostas que apresentamos:


  • Congelamento da passagem de ônibus e auditoria do sistema de transporte;
  • Realização democrática da Licitação, ouvindo a população do município, incorporando as demandas;
  • Garantir a integração que promova a ligação de todos os povoados da cidade (Atalaia Nova, Olhos D`água, Capuã, Jatobá, Canal e Touro) com o transporte integrado da Grande Aracaju.
  • Criação do plano de Mobilidade Urbana de Barra dos Coqueiros, com audiências públicas que contemplem ampla participação da comunidade.
  • Garantia da continuidade do transporte alternativo
  • Criação e reforma dos abrigos nos Pontos de Ônibus
  • Respeito à acessibilidade em todos os ônibus e terminais
  • Aumento do número de ônibus novos e de linhas disponíveis
  • Funcionamento do Transporte durante 24h
  • Criação de um espaço permanente de discussão com o movimento e a sociedade civil organizada
  • Passe livre para estudantes e desempregados



Nota do MOTU na Barra dos Coqueiros (28/02/2013)



Há nove meses estamos em Luta e continuaremos a Lutar, após despejo as 172 famílias moradoras do acampamento Vitoria da Ilha- MOTU - Movimento Organizados dos Trabalhadores Urbanos, ocupam área na entrada da Barra dos Coqueiros até que providencias sejam tomadas. Existem muitas famílias na Barra dos Coqueiros com mais de 6 anos de cadastro e até hoje nenhuma casa foi construída, se ficarmos esperando, as coisas não acontecem. Somente em LUTA e organizados poderemos vencer.

Cumprimos a ordem de despejo, para onde poderíamos ir? Que auxilio foram levados às famílias, nenhum, somente caminhões para que saíssemos do local, o que poderíamos fazer?
Não se trata de ocuparmos o local para ficar, acreditamos que a prefeitura e governo vão se posicionar para acolher as famílias até que suas casas estejam prontas. Já foram duas ordens de despejo procuramos hoje o ministério público, mas a causa não foi aceita. Acreditamos que LUTAR NÃO É CRIME, que os governos e o justiça entenda isso.

Queremos que o dinheiro público venha em favor de toda a sociedade e principalmente das famílias mais pobres, queremos trabalho e salários dignos, queremos viver em moradias dignas e ter acesso a todos os direitos sociais que nos foram retirados, temos direito a ocupar o solo urbano, queremos transporte público de qualidade, queremos escola, saúde, lazer, cultura.


Movimento Organizado dos Trabalhadores Urbanos (MOTU)

Vamos à LUTA contra o aumento da passagem e por uma mobilidade de verdade



O Coletivo Sejam Realistas, Exijam o Impossível de Barra dos Coqueiros, é contra o aumento da passagem e a favor de um transporte coletivo público, gratuito e de qualidade!!!

PREFEITO e VEREADORES de Barra dos Coqueiros, vocês continuarão omissos a atual situação da mobilidade e transporte público da BARRA DOS COQUEIROS?????????

PREFEITO AYRTON MARTINS, O SENHOR DEIXARÁ 172 FAMÍLIAS DESABRIGADAS?



Prefeito de Barra dos Coqueiros e companhia ilimitada de defensores.

Não era necessário esta passando uma informação dessa aqui, que todos já sabem, mas muitos indivíduos esqueceram que de acordo com o plano diretor vigente no município e plano municipal de habitação, a BARRA DOS COQUEIROS tem um déficit habitacional de 1024 casas, ou seja, foi realizado um levantamento e constatado que existiam milhares de famílias dentro do município de BARRA DOS COQUEIROS vivendo em invasões irregulares ou em condições não garantiam as condições mínimas e básicas garantidas na nossa constituição (nossa lei maior).

E eu tenho certeza que vários indivíduos aqui sabem disso, a prefeitura sabe disso, mas até hoje quantas casas populares foram construídas na BARRA DOS COQUEIROS?

Certamente, hoje esse déficit habitacional é bem maior, já que o plano diretor tem aproximadamente cinco anos e esses dados são da época da construção do plano diretor que por sinal esse plano diretor nunca foi respeitado quando a questão é habitação, temos varias áreas do município destinada a construção de varias casas para superar esse déficit habitacional, mas nenhum prefeito respeitou a legislação municipal, inclusive as 172 famílias que hoje ocupam a área publica na decida da ponte estavam ocupando a maior área de interesse social do município e foram despejadas, área que deveriam ter casas para o povo da BARRA.

Ou seja, são décadas de sofrimento de muitas famílias da BARRA DOS COQUEIROS para conseguir morar com dignidade, são famílias que tentam apagar a tristeza de ver os seus filhos brincando dentro de uma canal, enquanto isso em poucos meses varias construções são aprovadas, inclusive mega obras utilizando terrenos quase do tamanho do centro de BARRA DOS COQUEIROS, e apontando uma contradição para os que falam que as famílias da ocupação vitória da ilha não são da BARRA DOS COQUEIROS com argumentos que não existiam tantas famílias desabrigadas no município (discussão superada pela legislação municipal), nos novos empreendimentos do município quase todos os novos moradores do município não são de BARRA DOS COQUEIROS, sem contar com os futuros DAMHA E ALPHAVILLE que serão praticamente todos os moradores de outros municípios ou estados (com exceção dos moradores do município que tem mais de 500 mil reais para morar em um desses empreendimentos).

Peço uma reflexão sobre o que escrevi acima, não pensem que as famílias que estão ocupando o terreno público na descida da ponte estão felizes por estar vivendo em um espaço como aquele, imaginem vocês com seus filhos pequenos morando ali, sem banheiro, sem água, sem condições básicas de vida, mas eles tem tem um sentimento maior, a ESPERANÇA DE CONSEGUIR UMA CASA PARA O FUTURO DOS SEUS FILHOS E FAMÍLIA.


TODO SER HUMANO PRECISA DE DIGNIDADE, UM TETO PARA VIVER!!!

CONTRA O AUMENTO DA PASSAGEM


PREFEITO, VICE-PREFEITO E VEREADORES DA BARRA DOS COQUEIROS VÃO FINGIR QUE NÃO ESTÃO VENDO NADA? VÃO CONTINUAR OMISSOS?

Querem aumentar a passagem do Transporte Coletivo Público.
O Transporte Coletivo Público é serviço fundamental para o povo da Barra dos Coqueiros.
Os Trabalhadores e Estudantes da Barra dos Coqueiros também pagam a passagem de ônibus.
O serviço prestado do Transporte Coletivo Público participa diretamente da dinâmica econômica e social do município.

RESERVA EXTRATIVISTA JÁ!!!