A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E O FIM DAS
MANGABEIRAS
Dia 05 de junho se comemora o dia do meio
ambiente, e o que nós barra Coqueirenses temos a comemorar? O coletivo Sejam
Realistas Exijam o Impossível convoca a população da nossa cidade para uma
profunda reflexão sobre um dos bens mais simbólicos de nossa terra, a mangaba,
e o seu povo guardião, as catadoras do fruto. ”A mangaba é uma fruta de notada
relevância para o estado de Sergipe, relevância, que levou a instituição da
mangabeira como árvore símbolo do estado através do decreto n° 12.723 de
janeiro de 1992.”
O que são as mangabeiras da Barra? Catadoras do
fruto? São árvores que dão a mangaba nas safras de verão e inverno? Ou seriam
elas um passado próximo? Mais do que os óbvios e o indesejado referidos, a
mangabeira é o pão, a memoria e a vida de um povo que não vem sendo ouvido. A
Barra dos Coqueiros é uma cidade que abriga o rico ecossistema de manguezais e
a vegetação de restinga a qual compreende dentre espécies como muricizeiro
araçazeiros as nossas mangabeiras.
Olhos
D`água, Capuã e Jatobá são os povoados da Barra dos Coqueiros com população de
plantas e contingente de catadoras e catadores mais relevantes, povoados que
fazem parte da zona rural cada vez menos
verde e consequentemente com menos espaço para as populações tradicionais, em
2007 a zona rural representava 25% da população de Barra dos Coqueiros já em
2010 ela passou a representar 16,4% da população municipal segundo dados do último
senso do IBGE. Apesar disso o quantitativo do fruto extraído aumentou de 11
toneladas em 2004 para 22 toneladas em 2009 segundo dados do IBGE 2011, e se
mantem crescente devido a valorização dos preços, valorização essa muito em
função da escassez. Uma escassez que assusta os extrativistas desses povoados
que classificam a cata da mangaba como a suas atividades mais rentáveis seguida
da pesca. Um sintoma claro desse problema já se anunciava através de números
explícitos na pesquisa feita em 2008 no mapa do extrativismo da mangaba
publicado pela EMBRAPA em 2010, apresenta que das áreas onde vegetam a
mangabeira 9.190 hectares, 3.270 hectares são extrativistas (genótipos nativos,
de modo que não foram convencionalmente plantados e não apresentam estratégias
de cultivo agrícola), desse quantitativo 29,13% tem seu acesso proibido por
proprietários; nessa mesma época cata de mangaba em áreas não demarcadas era de
35,58%, contudo em uma pesquisa realizada em 2011 como trabalho de conclusão do
curso de engenharia agronômica da UFS, foram entrevistadas catadoras e
catadores dos três povoados sobre os fatores de complicadores da atividade, e 66%
dos entrevistados apontaram a proibição de acesso e a cobrança por balde
extraído nas áreas particulares com plantas nativas, pois apenas 12% tem um
terreno próprio, porém são em geral as suas habitações e tem área diminuta para
a extração de fins comerciais.
Um fato importante a se considerar sobre a
mangaba na Barra dos Coqueiros é que a região compreende um dos maiores centros
de conservação do genótipo da mangabeira, o 9B, que vai do litoral de Sergipe
até o Espírito Santo. E que como definiria o renomado pesquisador das
interações homem-natureza, o professor carioca Antônio Carlos Diegues, “as
comunidades extrativistas de mangaba figuram-se como um dos atores centrais e
são caracterizadas particularmente pela sua relação conservacionista com o
ambiente que contribui para a manutenção da diversidade biológica, tanto das
espécies como dos ecossistemas”. Sendo assim devemos a essas populações o que
ainda existe de mangaba, uma população que segundo as pesquisa da UFS 2011, 84%
possui os conhecimentos passados de geração a geração, e
apesar da riqueza cultural e ambiental envolvida as catadoras da mangaba não identificam nenhum um investimento efetivo de politicas
públicas para a conservação das áreas, uma população cujo 60% recebem menos que
um salário mínimo e que 67% escoam o fruto extraído nas vendas em feiras e na
estrada. Nos perguntamos, será que falta
incentivo para essa cultura crescer ou devemos assistir pacificamente a
derrubada das plantas, das vidas e da cultura que gira em torno da mangaba na
Barra, uma derrubada com o argumento de moderno e de urbano?
Nós do coletivo Sejam Realistas Exijam o Impossível
acreditamos que não, pois um novo tempo pode ser construído sem destruir o meio
ambiente, contudo o município, estado e o governo federal não abriram
nenhum canal de dialogo com as comunidades extrativistas da Barra
dos Coqueiros diante dos últimos “grandes projetos imobiliários, energéticos e
comerciais“ que vem ocupando as áreas nativas dessa população. Temos um passado
nebuloso quanto ao que parecia ser a esperança do povo da barra sobre o acesso
a mangabeira, o caso do sitio São José do Arrebancado, ou sitio Filizola ocorrido
em 2007.
Sítio São José do Arrebancado
(Sitio Filizola) de aproximadamente 50 hectares, que anteriormente era
caracterizado como uma área de uso comum, em decorrência do abandono em que se
encontrava, desencadeou um processo reivindicatório pela posse da área por
parte da comunidade local organizada, contudo houve êxito, sobre a justificativa
de alto valor comercial das terras. Esse ainda é um processo sem
desencadeamento claro para a comunidade local. Cabe citar que no encontro
estadual das catadoras de mangaba em 2007 o superintendente do INCRA, Luís
Carlos Fontenelle declarou ao público que o decreto de desapropriação já havia
sido assinado pelo presidente Lula.
É triste constatar, mas o povo e a nossa
natureza vale pouco para o poder público, ao passo que a área do antigo polo cloroquímico
(área pública) foi entregue de mãos beijadas pelo governo federal e estadual,
com anuência do município para a empresa de capital estrangeiro, ENERGEM, que construiu
a faraônica usina eólica, sobre a qual nada conhecemos em benefícios, malefícios
e custos. Os relatórios de impacto de vizinhança (mecanismo que serve
atualmente para a aprovação de empreendimentos na Barra) tem valido muito mais
do que as demandas socioambientais, pois a todo o momento são liberados
condomínios sem a clareza da aplicabilidade das compensações.
O Coletivo Sejam Realistas Exijam o Impossível apoia
a luta das catadoras de mangaba, pescadores, marisqueiras e agricultores na
preservação dos ecossistemas de nossa cidade. Não
há mais tempo a perder! Um desenvolvimento que concilie a manutenção dos
ecossistemas e o incremento produtivo da zona rural é possível basta que os
poderes públicos assumam a posição do povo!
Muito boa a matéria
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